Capa por: Heather Hazzan e Lily Cummings (All Woman Project)
Eu penso nisso já há algum tempo e gostaria de convidar vocês a fazerem uma reflexão junto comigo.
Não é de hoje que eu queria materializar em texto algo que eu acho muito incoerente dentro do universo da Consultoria de Imagem: a análise morfológica.
Para quem é novo nesse rolê eu explico, a análise morfológica é, basicamente, uma análise de estrutura corporal. Durante esse processo, a Consultora de Imagem e Estilo retira as medidas dos ombros, cintura e quadril da cliente, analisa as proporções dessas circunferências e determina em qual dos cinco biótipos abaixo a estrutura da cliente se encaixa:
Oval, quando a circunferência do abdômen é maior que a dos ombros e do quadril. Ampulheta, quando as medidas dos ombros e quadris são semelhantes e a da cintura é a menor delas. Triângulo, quando a medida do quadril ultrapassa as circunferências dos ombros e da cintura. Triângulo invertido, quando os ombros são mais largos que a cintura e o quadril e, por fim, Retângulo, quando todas essas três medidas são aproximadas.
E é a partir daqui que as incoerências começam.
A análise de morfologia corporal, pelo menos na teoria, é um processo libertador. Ou seja, ela busca trabalhar a aceitação da cliente pelo próprio corpo e tem o objetivo de indicar quais as peças mais adequadas e harmoniosas para o biótipo dela.
Só que na prática a coisa muda de figura.
Primeiramente, o único corpo que é visto como harmonioso, dentre esses cinco que citei ali em cima, é o ampulheta. Esse último pode usar todo tipo de peça, enquanto os outros quatro biótipos estão cheios de limitações.
Segundo, se você possui um dos outros quatro biótipos, a maioria das Consultoras de Imagem e Estilo te ensinarão a usar as roupas de forma que você esconda o formato natural do seu corpo. Aliás, elas te ensinarão a transformar seu corpo visualmente num formato ampulheta, pois como eu disse, é o mais harmonioso.
(Difícil, né?)
Agora me diga você, o que isso tem de empoderador? Esse processo realmente trabalha a aceitação do corpo feminino ou é só uma forma sutil de empregar o velho discurso da beleza padrão?
Joga aí no google: corpo ampulheta e veja as imagens que aparecem: só corpos que parecem esculturas, de tão proporcionais e perfeitos.
(Sei que tô mandando essa num sábado de manhã e problematização a gente só faz de segunda à sexta em horário comercial, mas é de extrema importância levantar essa questão por aqui.)
Nós mulheres superestimamos a nossa capacidade de diferenciar o que é imposto e o que realmente é bonito, se é que esse último existe. E vivemos a vida toda com esse sentimento de inadequação dentro da gente, com essa vontade de mudar cada cantinho do nosso corpo que é constantemente alimentada por tudo que nos rodeia.
Eu acredito enormemente no potencial transformador da Consultoria de Imagem. Afinal, eu já acompanhei o desabrochar da autoestima de várias mulheres e pude constatar que uma mulher feliz consigo mesma não se deita pra qualquer coisa.
E é exatamente por isso que eu trouxe esse questionamento pra cá.
Me entristece muito ver algo tão poderoso se enviesar por um caminho que só traz insegurança para as mulheres.
O que vocês pensam sobre? Esse meu questionamento faz sentido para vocês?
Sim, tava pesquisando sobre a morfologia corporal, porquê uma calça ficou estranha em mim, eu sou classificada como “pêra” e olhei as dicas pro meu biotipo, e todos os outros e percebi que no final eles só tentavam parecer com o tal do ampulheta… Concordo com sua reflexão.