art by Eveline Schram
Ganhei meu primeiro sutiã aos 11 anos de idade. Era de tecido, sem aro, sem bojo, sem enchimento e todo estampado com a figura do piu-piu. Eu não tinha nada de peito, nadica de volume, mas minha mãe falava que eu deveria usar mesmo assim, pois minha blusa de uniforme era branca e transparente e dava para ver a sombra do ‘limãozinho’.
Na minha escola, as meninas eram encorajadas a irem mais discretas para a aula e a não dar trela para as investidas dos meninos. Os meninos, por outro lado, comportavam-se como um bando de babuínos e nunca sofreram nenhuma intervenção séria. Hoje eu entendo que essa situação era só uma prova do que eu iria experimentar quando me tornasse uma mulher adulta.
Quando consegui meu primeiro emprego no ramo da moda, aos 23, levei bronca da chefe, pois fui a casa de uma cliente (casada e ciumenta) sem usar sutiã. Um ventinho bateu, o mamilo ficou assanhado, o marido da cliente deu uma olhada indiscreta, a cliente viu, minha ex-patroa idem e quem sobrou na história fui eu. O resultado disso? Não perdi o meu emprego, mas levei uma lavada de cara épica e fui orientada (para não dizer obrigada) a colar qualquer coisa nos mamilos, de micropore à bandaid, que pudessem disfarçá-los.
Como o meu trabalho era prioridade e, acima de tudo, uma necessidade, meu mamilo rodou na história e teve que voltar pra debaixo de um sutiã.
Em 2010, Carla Bruni, que ainda era a primeira-dama da França, virou notícia no mundo todo pois compareceu a um jantar oficial sem usar sutiã. Gafe, desrespeito e falta de etiqueta foram umas das palavras mais usadas para descrever o acontecido.
O sutiã parece ter uma funcionalidade destinada à mulher e outra à sociedade, né? A propaganda que nos vendem é que ele é um item que protege e sustenta os nossos seios, o que não é uma mentira. No entanto, se ele é só uma ferramenta de bem-estar, por que seu uso ainda é ditado como uma obrigação? Por que sofremos represálias ou somos assediadas se saímos na rua com os mamilos livres por debaixo das roupas?
A resposta é simples. O corpo da mulher é extremamente sexualizado e enxergado como um espaço público, ainda. Todo mundo pode opinar e interferir nele, se assim desejar. Ao meu ver, a hipersexualização do corpo feminino é um dos maiores obstáculos já colocados em nosso caminho rumo à liberação e à igualdade de direitos. Enquanto lutamos para sermos enxergadas como seres que merecem respeito e que tem direito à fazer suas próprias decisões, os homens pularam essa fase e já estão lá na frente, tomando decisões por nós e ocupando a grande maioria dos cargos de poder no setor privado e público.
Minha intenção com esse desabafo não é promover uma segunda queima de sutiãs em praça pública (mas se vocês quiserem eu quero), e sim levantar uma discussão sobre algo muito maior: o que é que está por trás de todas essas regras que são passadas para nós mulheres?
Sintam-se à vontade para opinar e discutirem sobre isso nos comentários, viu? Toda opinião, desde que respeitosa, é válida. Esse é o nosso espaço!
Beijo no coração, bom final de semana e libertem seus peitinhos! <3
NA ONDE QUE A CORPO DA MULHER É ALGO PÚBLICO???
Em lugar nenhum, Alice. O corpo da mulher, embora seja tratado como algo público (pois todos se acham no direito de bem dizer o que uma mulher deve ou não usar), é algo particular e pertence apenas a ela. Cada mulher decide o que usar, como usar e não deve sofrer represálias por conta disso.
Um beijo e obrigada por comentar <3